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    quinta-feira, junho 04, 2009

    Bruna Alves ás 00:50 //


    Os dedos entrelaçados, os olhares perdidos e, de forma nostálgica, a luz do sol desaparecendo da janela.
    A sacada aos poucos era abandonada pelos pássaros e o quarto a cada momento mais perdia sua vida.
    Você entende que tudo naquele momento pode ser a última vez. Desde a luz até as respirações calmas e pensativas. Você entende mas prefere não pensar nisso porque a dor da perda pode soar muito tranquila e isso pode te assustar.
    Você o olha e seus olhos estão perdidos em alguma coisa sobre a mesa de cabeceira, mas não há importância. Não há nada lá em cima.
    Você resolve beber, tomar um banho, fumar e talvez se jogar da sacada, mas pensa que prefere aproveitar aqueles últimos momentos ao lado dele.
    Há certa movimentação e o clima perde toda aquela magia com pequenas luzinhas piscando janela afora, ele levanta-se da cama e você ainda está lá pensando.
    O tempo está se esgotando e ele está deixando o quarto. Sua mala já está pronta e você não se lembra do porque dela estar guardada dentro do armário.
    E por um momento você culpa todo o mundo, a não ser você. E você culpa até mesmo a mala, mas não você.
    E enquanto se encaminha para a sacada com um cobertor enrolando seus ombros pálidos, você sente que a qualquer momento pode chorar. Mas espera.
    E quando tudo termina, e ele se vai pela porta levando tudo o que um dia poderia lembrá-lo, você tem certeza de que não vai doer tanto assim, e espera que ele não se arrependa.
    Descobre que o sentimento pulsando em seu peito é somente remorso, e que na verdade nunca foi amor. E você sorri porque nunca realmente amou alguém, e portanto não pode falar das dores.
    Mas então pensa. Talvez sim, e talvez tenha amado. Você não tem certeza, na verdade. Porque nunca houve explicações para o que era o amor. E nunca houve explicações para o que você sentia.
    Então você sabe que tudo o que não se explica é amor. Até o ódio, se não explicado, pode ser amor. Você agora sabe que amou. Amou e foi bom.
    E agora só existe você, a sacada, a rua e as pessoas formigando lá embaixo do vigésimo andar. Mas você está bem sem entender exatamente porque. Talvez isso também seja amor.